domingo, outubro 22, 2006

Promessas Não Cumpridas...
Eu prometi que semanalmente iria postar neste flog. Eu prometi que jamais tomaria um porre de caipirinha feita com cachaça barata. Eu prometi que não escutaria músicas "dor- de -cotovelo" mais. Prometi ser menos vaidoso, menos ansioso, menos ingênuo, menos ignorante nas artes da malícia humana.
Arrumar a cama, ler livros, prometi não correr mais riscos...
Pois bem, quero neste momento fazer a única promessa que posso! Chega de promessas instáveis! Não sou político, pastor de igreja ou produtor cultural! Não ofereço prato feito, cantinho no céu, nem pauta na brodway!
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Cartas de Leitores? Comigo?
Descobri que muitas pessoas me lêem. Fico atônito! Tenho recebido e-mails de todas as partes do Brasil e também de Portugal. Fico vaidoso e prometi que deixaria de ser!
Além dos amigos, tenho tido o carinho de muitas pessoas desconhecidas que se identificam com as minhas coisas.
Vaidoso! Vaidoso, sim! Não tenho recursos de publicar livros e sou lido por muita gente! Vou transcrever a mensagem de Alessandra, de Araxá, Minas Gerais, que me descobriu num site literário e me enviou a mensagem mais linda que recebi:
"Caro, Charlie Rayné
Realmente fiquei muito tocada pela sua literatura. Tenho lido tanta coisa inútil, que não serve para reflexão! Quando me deparei com a crônica, "Feliz Natal, meu amor" e "Senhor Cor", descobri que tuas palavras tem o dom do alívio, o poder da identificação, a magia de radiografar os sentimentos mais guardados dentro de cada um de nós. Agora que te descobri, quero te ler muito, sempre!
Um beijo da fã mineira,
Alessandra Gomes"
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De Cuidado e de Vazio
Cuidado

Estou em trégua, cuidado com teus passos ruidosos, não grites, tampouco gargalhe do meu nariz...
A trégua antecede e sucede as guerras. Cuidado, amor, pareço frágil...
Meu jogo dispensa a escala linear, estou em trégua, mas trevas sei ser...
Vês quanta candura posso ter, vês quanta doçura te digo, errante de ti?
Sorvetes, mãos entrelaçadas, salada de frutas e beijos de mormaço!
Cuidado amor, estou em trégua, mas treva posso fazer. Neste mesmo instante, agora, já !
Na velocidade das tragédias, dos incêndios, dos carnavais...

Vazio

Um vazio. Um grande vazio. Cores sujas em ruas acizentadas.
E ao longe um balão multicolorido, prometendo graças e fantasias...
Ele passa. Ele voa e esquece de descer.
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Texto para Reflexão("Trecho de O Conto de Água Seca", de Charlie Rayné)
Antônio: Descansar, não é mesmo?

Maria: Quanto tempo falta, Tonho?

Antônio: Uns dias mais...Onório, por que cessou o falatório?

Onório: Cansaço!

Maria: Os meninos tão chorando. Trouxe água prá eles?

Antônio: Pega aí, dentro do saco. E a Serena, seu Onório?

Onório(sombrio e triste) Serena morreu, compadre. A minha bezerrinha morreu faz muito tempo...

Antônio: Não. Eu to vendo ela aí...To vendo! Ta fazendo bé pro senhor!

Onório: E eu escuto os filhos de vocês chorar...Eu escuto!

Maria(nervosa, quase descontrolada) É fome, não é? Mas tem água aqui seu Onório! Tem água! A Serena ta com sede!

Onório: Não existe água nenhuma, comadre Maria! Nenhuma! Não existe vida nesse fim de mundo!

Maria: O Padre disse que água é vida! Como não tem vida se os meninos tão tomando água!

Onório: Não tem água...Não tem Serena...Vida não tem!

Os atores deitam para descansar. Transição. Acordam.

Antônio: Retomar viagem? Acorda Maria! Acorda os meninos! Seu Onório! Seu Onório!

Onório:
Sonhei com a Serena! Chovia muito! Muito! Ela bebia a água que se espalhava em cada canto. As crianças de vocês pulavam nas poças...Já eram bem maiores. Eu dançava com minha velha, que Deus a tenha, e vocês dançavam sem parar...

Maria: Conta mais compadre! Conta!

Onório: Deus lá de cima chorava de felicidade e cada gota dele fazia um rio imenso. A gente ria muito! Muito! (os atores começam a encenar o sonho) Tinha comida farta e cachaça, aos poucos todos vinham para cá. Uma cidade cheia de água.

Maria: E formava o mar?

Onório: Formava! De tudo, Maria! De tudo!

Maria: Compadre! O que havia mais?

Onório: A esperança que morreu quando eu coloquei meus olhos cansados nos teus meninos...

Maria: Não...Não fale assim...Não Fale!

Onório: Vamos seguir viagem?

Antônio: Por que está chorando Maria? Pega os meninos e vamos embora!

Onório: A Serena e os meninos!

Maria: O que tem eles?

Onório: Eles estão neste lugar do meu sonho!

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charlie.rayne@gmail.com