Depois de mais um longo período em que me detive a esquecer a tarefa de postar, volto. Volto para dizer que minha vida de escritor está encerrada, posto que a vida está escrevendo por mim. Dá um cansaço escrever quando a escrita da vida está numa velocidade torturante! Muita, muita adrenalina!
De posse desta realidade, tirei do baú um texto que fala sobre escolha profissional e ofereço aos meus alunos do Curso de Aprendizagem Comercial do Senac Pelotas.
A Decisão de Claudinho...
Mulher fazendo tricô incessantemente. Está nervosa. A atividade é como um subterfúgio para tentar acalmar-se diante da situação que está para acontecer.
Néstor: Ele já se decidiu?
Mulher: Já. Ele quer falar com você...
Néstor: Porque você está com essa cara?
Mulher: Que cara?
Néstor: Essa cara estranha!
Mulher: Nada.(fica nervosa e deixa cair o tricô no chão)
Néstor: Ele já contou para você não contou?
Mulher: O quê?(pega o tricô que caiu e torna a tricotar mais nervosa ainda. As mãos tremulam)
Néstor: O que ele decidiu?
Mulher: Decidiu o quê? Ah, ele quer um blusão verde com bolinhas amarelas.
Néstor: Eu estou perguntando se você sabe o que ele decidiu. Aquela outra coisa, não o tricô!
Claudinho entra de cabeça baixa, preocupado.
Claudinho: Pai... Eu decidi!
Mulher: Filho, vai com calma. Seu pai quando fica nervoso tem crises de hemorróidas...
Néstor: Vamos. O que você decidiu?
Claudinho: Eu decidi. Pensei muito e decidi.
Mulher: Claudinho, por favor. Pega leve!
Néstor: Fala Claudinho. Estou pronto. O que você decidiu?
Claudinho: Medicina pai. Eu quero prestar vestibular para Medicina!
Néstor: O quê?
Claudinho: É isso mesmo! Eu quero ser médico! Cirurgião Plástico!
Mulher: Acalma Néstor. Acalma!
Néstor: Foi para isso que eu te criei? Para ser um médico? Que vergonha! Que vergonha! Um médico! Onde foi que eu errei Claudinho? Onde foi?
Claudinho: Eu não queria decepcionar o senhor, mas é mais forte que eu.
Néstor: Eu lembro bem. Você era pequeno e já inventava aquelas brincadeiras de médico com as vizinhas da rua. Eu falei pra sua mãe, que isto era uma tendência perigosa. Eu falei.(para a mulher) E você me disse que era coisa de criança. Pois sim!
Mulher: Paizinho! Deixa o menino decidir o que é melhor para ele!
Claudinho: Perdoa pai! Me perdoa (ajoelha-se aos pés do pai)
Mulher: Ele não quer fazer Dança. Ele não quer Néstor!
Néstor: Filho ingrato! Sai da minha frente. Eu não te perdôo!
Néstor: Pensei que o meu filho seria um bailarino clássico, a fazer “plies”, “grand plies”, “arabesques”... Sempre sonhei em ver você, de sapatilha de ponta, usando um colant azul bebê... E aí está um marginal que quer fazer medicina. Isto são as companhias! Aquele bando de amiguinhos que você tem. Todos médicos, veja só, que vergonha para os pais! (começa a tremer, sente-se mal, fica tonto)
Mulher: Néstor! Néstor!
Claudinho(segurando o pai): Pai, não faz assim. Pai! Pai!
Mulher: Ele desmaiou de vergonha! Ele pode até morrer! Viu o quê você fez? Você matou seu pai Claudinho! Custava fazer a vontade dele? Custava decidir uma profissão estável e lucrativa como a dança?
Claudinho: Se eu já tivesse passado no vestibular e terminado a faculdade, agora mesmo poderia cuidar do pai. Ele precisa de um médico!
Mulher: Seu pai é direito, honesto! Jamais vai ser tocado por um médico! Ele prefere morrer a ter um filho médico!
Claudinho:Você também está contra mim agora?
Mulher: Estou do lado que é direito, honesto. Se você fizer Medicina pode pegar suas coisas e esquecer que um dia teve um pai e uma mãe! Nestor, paizinho, levanta.(Nestor acorda e levanta) Vamos deitar. Eu vou dar calmantes para você.
Claudinho: Pai? Olha para mim!
Pai: Você me matou! Eu morri para você e você morreu para mim. Só torne a falar comigo quando decidir dançar “Paquita” ou “Lago dos Cisnes” no palco do municipal!
1 Comments:
Você não tem jeito.
Incomparável.
Amo-te amigo escritor.
Agora, um escritor nunca encerra a carreira, ele adormece, carrega as baterias, enche de novas idéias, nunca pára.
Você é escritor, e será sempre.
Amém.
Que esta fase seja cheia de coisas boas para ti.
Bjs
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