segunda-feira, julho 12, 2010


Marcas...

Ele tinha uma marca. Uma marca do passado. O Passado que condena no presente, que ameaça o futuro. Marca de boi, tatuada a ferro quente. Uma marca. Quem atira a primeira pedra? Todos atiram as pedras, todos zombam dele, todos e ela muito mais que toda a multidão. Ela, a pureza. Ele, a imundície, a sujeira. Ela a justa e correta, porta voz da verdade. Ele, um poço de mentira e falsidade. Ele não só atira as pedras, como também as aquece no fogão e gruda na sua testa, uma a uma, todo dia, dia todo. Ela pega as pedras e cria um caminho desordenado para ele, para que ele se perca, para que ele se esqueça de que é um ser humano.
Ela não sabe que o tempo move as peças, ela não sabe que as pedras que atira são as mesmas que se voltarão contra ela. Ela não sabe o que é uma fera sofrida, não sabe que as feridas cutucadas despejam coisas inimagináveis. Ela não sabe de nada. Ela não sabe que um dia ele foi todo dela. Ela ferve água na panela e despeja sua ira, sua revolta, sua vida canhota, seu vazio...Ela precisa de um circo: Ela, a domadora. Ele o leão covarde, leão combalido, cansado de guerras inúteis e desafios fúteis. Ela a domadora, domando a força de um bicho esfomeado e marcado pelo tempo.
Quem és tu para julgar? Quem és tu para atirar pedras em quem te ensinou a fazer castelos com elas? Atira as pedras que quiseres! Eu as pego e guardo no meu bolso. Elas me farão companhia e estas pedras serão um dia a trilha que vai te levar para mais perto de mim.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Que bom texto. Que sufoco é isto que foi debatido
Um abraço professor
Leonardo

14 julho, 2010  
Blogger Kapikua said...

Gostei muito do teu blog

Estive em Moçambique em Março e vi esta foto que me impressionou muito!

O sentimento de superioridade sobre o outro é a maior prova de atraso civilizacional de uma pessoa

grande abraço

15 abril, 2011  

Postar um comentário

<< Home