quarta-feira, dezembro 06, 2006


A Volta


Depois de um tempo relativamente grande volto a postar. Sem mais explicações volto a postar. Não precisam saber o que fiz neste tempo de folga. Não devo satisfações dos meus lapsos de ócio. Ou será que devo? Quero que pensem nas paradas como o fluxo natural da natureza...Ela chove e num átimo fica seca...Ela fica seca e num átimo chove. Sem explicações ela acontece sem saber o porquê. O corpo se enche de pêlos e hormônios mais consistentes em épocas mais ou menos diferentes para cada um. Os pêlos acontecem, o desejo, os instintos acontecem e não são monitorados pelos relógios.

Nem eu sei explicar a causa da minha parada! Eu parei. E só! Parei e fiquei tão parado que uma estátua teria inveja da minha imponência congelada. O gelo não fica por muito tempo congelado, eu sei, mas o que é o tempo? Se para mim os dias correm em andares de lesma, para você podem correr nos desesperos dos amantes.

Ela espera ansiosa a chegada dele. Ele. Ele, a tartaruga de seu amante. O amante vagaroso e cheio de delícias que aparecem aos poucos na fuga de seu casco. Ela, a amante afoita e cheia de carícias e coices. Os tempos são diferentes. Ela tem pressa, ela quer enrolá-lo nos braços como um presente precioso que necessita de um embrulho à altura. Ele quer degustá-la com a paciência de um jantar de cerimônia: entrada, entrada principal, prato principal, sobremesa, café, copos de água, suco, vinho e licor...

Ela quer fast food. Ela quer lanches rápidos e repetecos infindáveis.

Eles terminam o romance. Ele a tartaruga e ela o cavalo de corrida. Ele não tem pressa e ela pressa tem! Ela dá um coice e ele se esconde no próprio casco.

Encontram-se mais tarde. Não esperavam o encontro e nestes mistérios inexplicáveis se fundiram, uniram sua vagareza e agilidade, seus coices e carícias lânguidas...Aconteceram os dois! Aconteceram. Fluxo natural da natureza!


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Beijo


Ando romântico. Quero beijar e não quero. Quero o beijo que não existe. E se ele existir, prefiro morrer...


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Queijo


Furado é o melhor. Furado e amarelo. Nos buracos do queijo existem mundos. Mundos irresistíveis para mim. Estou sozinho e o queijo que está à mesa, me chama. Primeiro eu olho minuciosamente todos os buracos. Eu analiso a viabilidade do deleite. E como! Ah, eu como quando estou certo do meu desejo...Nos buracos do queijo existem tetas viris, as mãos dos ordenhadores, as mãos das queijeiras, o descanso nas prateleiras até chegar à minha boca!


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Pergunta sobre Queijo


Qual a utilidade de ralar um queijo furado e amarelo? Qual a utilidade de desfazer os buracos dele?


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Pergunta 2


Qual a utilidade de comer o queijo furado e amarelo? Comer de uma só vez?


Resposta 2


Para mim, nenhuma. Eu gosto de observar antes de comer e sempre guardo um pedaço para outro dia. Antes que ele acabe, eu já coloco outro no lugar!


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Vingança


Eis um trecho de um espetáculo meu que vai ser lido em Coimbra. Para que entendam melhor, Izaura, uma ex atriz famosa e abandonada pelo marido, trama com a vizinha Beatriz uma vingança. Beatriz que também foi traída por Jesus, seu marido, resolve fazer um pacto com a vizinha. Esta cena representa a entrada do banquete tragicômico que vai acontecer no espetáculo.


Jesus entra na casa da vizinha, Izaura, acompanhado da esposa, Beatriz.

Jesus: Dona Isaura! Obrigado pelo convite, mas estou achando tudo muito estranho!

Isaura: Jesus! Estranho são os vizinhos não se reunirem. Eu preparei um jantar delicioso para comemorar a nossa amizade. Um porco enorme com uma maçã bem vermelha na boca! Gostas de maçã?

Jesus: De maçã, de porco! Sou um comilão inveterado!

Isaura: Deixa eu te mirar bem! És um homem guapo! Uma maçã na boca te faria bem! Os homens guapos merecem maçãs na boca! Tudo que é belo não deve falar...Estraga!

Jesus: A senhora fala umas coisas diferentes!

Beatriz: Sim. Ela é atriz, Jesus! As atrizes são diferentes!

Jesus: Hum...

Isaura: Bia, serve um drinque para meu convidado! Cidra!

Jesus: Obrigado, isto é bebida de mulher! Prefiro uma boa cerveja!

Isaura: Não! Cidra! Vais fazer desfeita?


(Tango de La Reina, de Charlie Rayné)


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