segunda-feira, maio 24, 2010



Reflexão de (Des)Amor- A Teia, a droga, o Mestre, o renascimento!

Você já se sentiu amarrado? Com o corpo imóvel? As agruras das cordas apertando, machucando e fazendo feridas nos seus braços? Já sentiu laços que te movem como se você fosse um boneco de ventíloco? Já sentiste teu agressor te cuspir na cara e depois te dar um beijo, te dar um beijo e te cuspir na cara? Já sentiu medo de perder teu agressor, que embora te machuque, te faz ficar dependente daquele tão aguardado e mísero beijo?
O amor, às vezes, torna-se um vício. Precisamos de doses de telefonemas, mensagens de celular, encontros casuais e combinados, e nunca, jamais sentiremos aquela primeira sensação, aquele barato que nos faz esquecer de tudo que nos rodeia.
O amor é uma teia, cheia de nuances. Acreditamos percorrê-la com segurança e num átimo estamos enredados pela astúcia dos seus fios, vagando, tontos, pelos seus caminhos, tentando encontrar uma saída para depois nos entregarmos, resignados às aranhas.
Esta trama que parece não ter fim, acreditem, tem um fim. Jesus Cristo foi um amante das almas, amou tanto que se enredou também nas teias e entregou-se às aranhas, oferecendo-se como alimento a elas. Jesus Cristo era um viciado no amor, tão viciado que padeceu uma overdose de cusparadas, tapas, humilhações. Ele entregou-se ao amor, de tal forma que ofereceu sua vida a ele. Foi negado, pisoteado e nunca desistiu. Ele renasceu. para que todos nós pudéssemos fazer o mesmo,para que todos nós aprendêssemos um pouco sobre purificação. Amar é se purificar. A grande transformação de uma pedra bruta em um esplendoroso diamante.

quarta-feira, maio 19, 2010


Estilhaços...

Diante de tanto caos, de tantas cartas e roupas rasgadas, vidros quebrados, estilhaços de mim foram espalhados por todos os cantos, abrangendo um território imenso. Afinal vários setores da vida formam comprometidos nesta guerra que se chama vida.
Agora tento recompor todos estes pedaços e formar de novo meu avião. Avião que explodiu devido à presença de uma terrorista que invadiu todos os meus compartimentos e me fez quedar.
Não, não acreditem que somos vítimas dos terroristas. Eles também são nossas vítimas. Nós também invadimos seus espaços, muitas vezes sem pedir licença, estuprando seus sonhos e aprisionando suas essências.
Eu junto os meus pedaços. Longe de mim está um novo vôo. Trabalho de técnico este de recompor tanta engrenagem que se perdeu, tanto corpo que se espalhou. Um dia vou voar novamente e só entrar em territórios permitidos e seguros. Meus passageiros serão escolhidos a dedo e o meu piloto será a minha razão. Meu coração? Onde está meu coração? Meu coração estará nas mãos de Deus e juro que quando este dia chegar vou viajar por nuvens brancas, céus azuis e sonhos encantados... Mas este paraíso perdurará? Será que toda esta harmonia não vai me trazer enfado? Sim. Eu respondo com propriedade absoluta: sim!
Viver é paz e guerra, bem e mal, açúcar e sal, beijo e separação...Viver é aventurar-se no céu sem ter certeza se o pára-quedas irá abrir antes de nos espatifarmos no chão!
(Charlie Rayné)

segunda-feira, maio 17, 2010


Avesso
Há tantas coisas que preciso dizer...
Dizer que tudo isto me deixa do avesso.
Que atravesso lugares desconhecidos, que incendeio em chamas invisíveis.
Mísseis a toda hora.
Vísceras expostas.
Mesa posta sem comida.
Missa corrompida, sem hóstia.

Preciso dizer que grito e ninguém me ouve.
Hoje, ontem e amanhã...O que será? Venha me dizer onde estão as vozes de você!

Se eu disser que estou vendado, vendido para o que nem sei, para quem nem me vê e tampouco avisto?
Estou no risco, no traço não concluído, no vício, no cisco que insiste em me desfocar...Tudo isto! Isto tudo!

Vou contar as estrelas que nem avisto...
As luas que não contemplo?
Brincar de cabra cega, tentar decifrar o vento?

Sem saber o que será, o que serei, o que terás, o que terei, o que poderia ter sido se não fosse esse maldito e inexorável destino.

Não tenho tino para o inconcreto, não quero ser arquiteto do desconhecido!

(Charlie Rayné)

sexta-feira, maio 14, 2010


Meias, Metades...


Está bem. Certo está que tudo fora do lugar se encontra. Todas as contas de ontem e de hoje e as contas de amanhã também. Tudo bem. Tudo bem? Não existe equilíbrio quando descarrila o trem. Não tem sossego nem boa sorte, quando não se sabe se vai para o sul ou para o norte. Não tem. Cansei de meias verdades, de meias palavras, meias promessas. Cansei das meias encardidas, das metas não cumpridas. Cansei de meia lua, quero lua inteira, aquela que faz vulto e brilho no céu. Cansei de ser seu, cansei de ser eu, cansei de cansar.
Onde quer que vás, não vá pela metade, vá inteiro. Ame inteiro, beije inteiro, sofra inteiro, coma inteiro e seja íntegro na sua inteireza. Coloque as cartas sobre a mesa e não blefe jamais. Não existe meio poema, meio amor, meio sonho, meio sorriso. Tudo que é meio nos dá medo, nos mumifica, nos mascara, nos justifica a miséria!
A única coisa pela metade que vale a pena é a entrada no cinema.

quinta-feira, maio 13, 2010


A Receita

Uma aula enfadonha, com máquinas à frente. Assunto: tecnologia da informação. Um aluno cansado do trabalho, das guerras diárias, cansado de pedir atenção para pessoas e coisas que não se importam com ele. Junte uma turma de mais de 200 alunos por dia, uma família em desajuste e falta de dinheiro no bolso. Misture a saudade de um filho e a saudade de algo que ele nem sabe. A saudade da saudade. Coloque uma pitada de constatação de que o tempo está passando e ele já com neves no cabelo e rugas no rosto não tem mais o sorriso, o viço, o brilho de outrora. Bata todos os ingredientes neste liquidificador que é a vida moderna e está pronto o veneno. O veneno deve ser tomado diariamente e se apodera de todos os órgãos do corpo, imobilizando-os, e tornando-o um robô enferrujado com um coração que pulsará um choro trancado por anos a fio...

segunda-feira, maio 03, 2010


Papo de Botequim

Ela me disse, sentada num botequim de quinta categoria. Ela me disse que meu mundo era outro. Eufemismo para dizer que não me ama, para dizer que somos como água e óleo? Ela pede um salgadinho e eu contemplo aqueles olhos verdes que tanto amo.(embora ela nunca acredite). Dividimos o mesmo salgadinho. Oba! Combinamos em alguma coisa!
Ela me diz do meu passado, das minhas obscuridades. Ela me diz de pessoas que insistem em não me esquecer e jogam aos quatro ventos coisas que eu nem fiz, algumas que fiz e outras que nunca pensei.
Ela me deixa ali, com meus cigarros, com as minhas tristezas, com a minha mochila recheada de papeis e de livros de auto-ajuda. Ela não me deixa porque quer. Ela me deixa porque querem. Ela me deixa porque já se deixou. Ela me deixa porque outros a precisam. Paciência. Ela não me pertence mais, nem eu pertenço a ela. Descobrimos que nunca pertencemos a alguém, descobrimos que devemos ser água e óleo e que é possível fazermos um belo e arroz com isto.

domingo, maio 02, 2010


Angústia do Mundo

Eu tenho a angústia do mundo,
Este pesadelo eu tenho.
O Pesadelo do artista, do corrompido, dos ratos que espreitam o queijo...
Mares de água, Mortes de sangue, águas mortes, mares de sangue !
Tenho a indecisão dos amantes, a sofreguidão das mães abandonadas...
Tenho o nada e o tudo, a fé e a descrença.
Tenho presença de tudo que fui ou serei um dia
Ou do que nem sei que sou.
Amor, Dor, Ritos, Gritos, Sinos e Sendas
Flor, Vendas, Filhos, Livros e Cor
Eu tenho a angústia do Mundo, eu Tenho a Guerra em mim
Espadas, Adagas, Saara sem fim
O lenço branco do vento, o sol vermelho do fim
Trago a fúria do tempo, o beijo amargo carmim da prostituta
A Luta, o luto, a letra que borda lençóis de cetim.
Eu tenho a angústia do mundo, o desabafo do fadista, indecisão dos amantes, o nada e o tudo !
Tenho a mim, a cabeça em rodas, embriagada de sim...
Tenho rimas pobres e vulgares deste poema, trago a ânsia desta obra sem fim.
Que nunca se faz, colcha que nunca acontece
Eu tenho as idéias inúteis que se perdem como agora
O que fazer, a quem amar ?
Eu tenho a angústia do mundo, eu tenho a guerra em mim
Eu tenho a Guerra em mim, a angústia do mudo.
Um sonho sem fim. (Charlie Rayné)