quarta-feira, fevereiro 07, 2007


Algumas pessoas têm se queixado que eu tenho escrito coisas um pouco "nonsense". Usam este termo "eufemisticamente fresco" para na verdade não dizer na minha cara: charlie, você está escrevendo muita bobagem e loucura despropositada.
Já vou avisando que não tenho compromisso literário com este blog, quero dizer, compromisso literário de membro da academia brasileira de letras.
Este exercício de escrever o que me vem à mente é primordial. Este é o meu celeiro, meu rascunho, ou seja lá o que querem chamar algo que não pretende agradar aos outros. Eis a pré-história do meu processo de criação!.
Nonsense! Nonsense!
A pedidos, vou tentar escrever algumas coisas mais sérias, mais reflexivas, mais sensatas...


A Sensatez

Senso atado por um conjunto de valores pré-estabelecidos por uma sociedade que se intitula normal. Normalidade é ocultar o grito, o protesto, é dizer bom dia para o chefe, mesmo tendo vontade de mandá-lo para a Conchichina. Normalidade é tomar um porre para poder conversar com a ex - esposa, ex- namorada, ex -amiga, ex - celente mulher.
Os sensatos podem ser divididos em moralistas de cueca, suicidas, voyeuristas de binóculo, bêbados e uma lista interminável que não caberia neste blog.

Jornada de Melissa e o surgimento da maresia!

Eu sempre quis escrever sobre maresia. Nunca tive uma idéia que julgasse interessante. Amo a maresia. Acho que são sublimes estes ventos aguados que tanto nos confortam durante a nossa jornada.
Acordei cedo, que não é de costume e Melissa nasceu. Nasceu precisamente às sete e trinta da manhã.
Vamos a história:

Melissa era calma. Calma e paciente como um fogão a lenha. Magra e cozinheira, Melissa. O arroz de Melissa era daqueles que nunca ficavam no fundo da panela, eram soltos e ficavam “al dente”, se é que podemos usar este termo para designar o verdadeiro ponto de um arroz!
Fazia doces tão gostosos. Melissa fazia papos de anjo tão delicados, tão preciosamente ajustados aos paladares mais exigentes. A cor, o formato dos papos eram perfeitos!
Sabia ela que o que pairava em suas mãos transformava-se em iguarias. Ela se comprazia com isso! Ela transformava os alimentos, os tormentos, os parentes, os sonhos, os patrões e seus devaneios em iguarias sempre! Era um anjo, melissa!
Melissa adoeceu. Virou iguaria no céu e nunca mais cozinhou na terra. Deus engordou, os querubins engordaram e Melissa continuou se comprazendo de seu destino, agora celeste.
Quando olho o céu, vejo algodão doce feito por ela e recordo do tempo em que esteve na terra, recordo o tempo em que ela passou por aqui e nunca recebeu um agradecimento por seu trabalho tão precioso: servir os outros!
Serviu a terra, serviu o céu e hoje está no Inferno. Por vontade própria! Deus, apavorado diante dos quilos a mais, proporcionados pelos quitutes de Melissa, aprovou a decisão desta cozinheira revolucionária e autorizou seu deslocamento para o Inferno.
Diabo olhou aquela cozinheira magra e desprovida de beleza física e a desafiou. Ele queria um banquete para todos demônios e errantes do Inferno! Se eles aprovassem as gostosuras alimentícias de Melissa, ela estaria contratada. Caso contrário ficaria presa numa masmorra. Ela concordou.
O Banquete foi fenomenal. Diabo gostou muito, gostou deveras! Aplaudia e dançava de felicidade. Elogiou os dotes da cozinheira, ao que ela respondia: Os fogões do Inferno são de ótima qualidade.
Diabo não teve mais tempo de traçar guerras. Era tanta comida, tanto sabor a provar, que Diabo engordou e esqueceu das suas atividades. Teve receio de se tornar obeso e benevolente como Deus e despediu Melissa.
Melissa voltou ao céu. Não foi aceita. Deus estava em forma e manter Melissa seria arriscado demais. Ela voltou a terra. Não existiam mais fogões a lenha, nem alimentos para fazer seus quitutes. Todos tomavam pílulas alimentícias. Comida era coisa do passado!
Melissa pela primeira vez chorou. Do seu choro nasceu um mar grande, um mar imenso, cheio de peixes e frutos do mar. Afogou-se nas próprias lágrimas. Virou maresia para sanar o calor dos pescadores e dos viajantes. Encontrou sua verdadeira missão: acalmar o cansaço, refrescar os pensamentos, revigorar todas as gentes.

Ensaio sobre o Vento



Nasceu com uma ambivalência. Uma doença degenerativa que alterna tempestades e calmaria.
Na infância corria veloz, sem limites, mas com uma pureza tão cuidada...Desfazia castelos, mas com uma ternura tão invejável. Aos poucos ia removendo a areia, o castelo aos poucos ia transformando-se um monte de terra inútil.
Na juventude conheceu a fase mais conturbada. Juntou-se com a chuva e fez temporais...Levantou saias e derrubou casas...Trouxe memórias trágicas e secou lágrimas de bandidos...
Na maturidade descobriu a potência de sua força. Quis tornar-se justiceiro, mas muitas vezes praticou desvarios e injustiças...Usou ciclones, furacões,tornados para provar a si mesmo que era capaz.
Velho, virou sopro...Revolveu folhas, soprou em ouvidos, trouxe a memória dos mortos.
Ele nunca amou.
Está ventando agora e ele cochicha uma nova frase:
- O vento é uma saia de mulher que nunca foi descoberta, mas que sabe esperar...
Uma frase tão sem nexo, falei. Ele respondeu:
- Nexos não existem, o verdade nexo está na sua própria ausência.
Perguntei a ele o que eu estava começando a escrever. De que se tratava este livro. Ele respondeu, assobiando forte:
- Sobre os amores que vi, que destruí e que farei você recordar...