domingo, julho 25, 2010


Autobiografia


Olho azul, mas a alma nem tão celeste assim...Assim como todo mundo, feito de luz e sombra! Mais luz do que sombra, pois quando a sombra chega tenho tentado acender refletores de espetáculo.
Cabelos com os primeiros indícios de neve e algumas marcas de expressão, ainda tímidas que me farão um Senhor de muitas rugas e Histórias.
Escritor por vocação, ainda sem livro publicado. Pai de Miguel e sem ter plantado uma árvore.
Ainda não tenho carro, nem casa própria, não tenho namoradas e isso não quer dizer que não as tenha pelo simples fato de não possuir os bens citados acima. Não gosto de lavar louça nem fazer comida por obrigação. Detesto que me chamem de Charles e sou um romântico escondido por detrás das decepções amorosas que colecionei ao longo da minha trajetória.
Sou ator e tenho máscaras várias, mas nunca as usei para enganar os meus amores, os meus amigos. Se as usei foi para privá-los de tristezas desnecessárias ou para fazê-los rir das minhas patéticas piadas.
Adoro a madrugada e nela encontro as sombras dos seres humanos. Nós somos, ultimamente, mais sombra do que luz...Gosto de conhecer as pessoas, mais as suas máscaras porque elas são a nossa vida idealizada, refletida no espelho.
Sou professor e às vezes tenho vontade de rasgar todos os livros e dizer a eles que eu nada sou diante do que a escola da vida nos ensina.
Gosto de declamar poesias, gosto de música que dói no peito, gosto de ceroulas para dormir e nos dias de frio já matei alguns banhos.
Tenho poucos amigos, escolhidos a dedo, e muitas vezes perdi os dedos mas continuei sendo amigo deles. Fumo e bebo e também oro a Deus, e isto não quer dizer que sou alguém na corda bamba, que sou morno, que sou pecador...Sou quente e frio!
Não busco uma paixão, nem quero jantares à luz de velas e cruzeiros...Não busco corpos idealizados, cérebros artificiais, roupas de grife e loiras estonteantes. Quero mulheres que sejam mulheres: vaidosas sem excesso, magras ou gordinhas sem excesso, carinhosas sem excesso e parceiras com excesso!
Gosto de compartilhar um bom livro, comer pipoca com orégano e queijo ralado, brincar feito criança, escrever bilhetes e cartas de amor e viajar nem que seja para o interior do interior do interior.
Não aceito grosserias, estupidez, manias de grandeza, desinteresse por aprender, dinheiro fácil, rostinho bonito e coração descontrolado.

Prazer, Charlie Rayné

segunda-feira, julho 12, 2010


Marcas...

Ele tinha uma marca. Uma marca do passado. O Passado que condena no presente, que ameaça o futuro. Marca de boi, tatuada a ferro quente. Uma marca. Quem atira a primeira pedra? Todos atiram as pedras, todos zombam dele, todos e ela muito mais que toda a multidão. Ela, a pureza. Ele, a imundície, a sujeira. Ela a justa e correta, porta voz da verdade. Ele, um poço de mentira e falsidade. Ele não só atira as pedras, como também as aquece no fogão e gruda na sua testa, uma a uma, todo dia, dia todo. Ela pega as pedras e cria um caminho desordenado para ele, para que ele se perca, para que ele se esqueça de que é um ser humano.
Ela não sabe que o tempo move as peças, ela não sabe que as pedras que atira são as mesmas que se voltarão contra ela. Ela não sabe o que é uma fera sofrida, não sabe que as feridas cutucadas despejam coisas inimagináveis. Ela não sabe de nada. Ela não sabe que um dia ele foi todo dela. Ela ferve água na panela e despeja sua ira, sua revolta, sua vida canhota, seu vazio...Ela precisa de um circo: Ela, a domadora. Ele o leão covarde, leão combalido, cansado de guerras inúteis e desafios fúteis. Ela a domadora, domando a força de um bicho esfomeado e marcado pelo tempo.
Quem és tu para julgar? Quem és tu para atirar pedras em quem te ensinou a fazer castelos com elas? Atira as pedras que quiseres! Eu as pego e guardo no meu bolso. Elas me farão companhia e estas pedras serão um dia a trilha que vai te levar para mais perto de mim.