segunda-feira, setembro 25, 2006

Sol verdadeiro e Sol fabricado...
O frio parece que está se extingüindo e o sol, espaçoso como é, neutraliza as baixas temperaturas...Existem pessoas assim também. Elas possuem um calor, uma luminosidade capaz de impedir qualquer manifestação de baixas vibrações.
Conheci poucas pessoas assim, geralmente encontrei pseudo-sóis, sóis artificiais, de estúdio mesmo! Sóis fabricados meticulosamente para ludibriar desabrigados.
Por muito tempo fui um desabrigado e procurei o sol verdadeiro e, tantas vezes, me aqueci com a artificialidade do sol fabricado!
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Madrugada na cidade pequena: exu e pomba- gira!

Pensei que alguns gestos mais insanos, pertencessem mais às grandes cidades. Ledo engano. As criaturas humanas em cada canto deste planeta estão literalmente escalando grandes "world trade centers" e o resultado todos sabemos qual é.
Na cidade pequena fui dar uma volta. Fui a um espetáculo de dança e depois resolvi tomar um drink. Ao sair do drink e sair de mim, pois os drinks fazem sairmos da gente, encontrei duas pessoas aluadas. Ele me ofereceu um programa, ou seja, ofereceu seu corpo e Ela, a irmã ofereceu seus préstimos espirituais.
Não aceitei o programa,mas tive curiosidade de conhecer a espiritualidade da moça. Pois então, a moça empinava uma garrafa de vinho vagabundo e tremelicava feito a gelatina. Dizia-se Pomba Gira e ousava revelar meu destino. Ele, ao perceber que não seria producente a venda do corpo, decidiu tremelicar também e chamar o Exu.
Disseram tanta idiotice que ralmente fiquei apaixonado pela conversa. Os idiotas são sedutores. Alguém deixou de prestar atenção na conversa de um idiota recém conhecido? Somos mórbidos e adoramos ver a idiotice dos outros para provar a nós mesmos que somos diferentes.
Pelo esforço da encenação, dei-lhes alguns reais e ainda indiquei um bom curso de teatro.
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Raquel e Raul.
Raquel parecia saída de alguma tumba. Branca como só os cadáveres podem ser e sardenta como só os ruivos são...Era loura e sardenta. Não tomava sol e odiava suas sardas. Não oferecia o sexo para ninguém, tinha o cabelo mais lindo que já vi, e sabia disso!
O irmão era mulato e tisnado como só o café com leite pode ser e possuía um cabelo geneticamente modificado no laboratório da cama de seus pais. Seu nome era Raul. Raul detestava seu cabelo e oferecia seu sexo para todas as mulheres...
Raul e Raquel eram dois irmãos inconformados com a estética que Deus lhes deu. Raul queria ter sardas e cabelos louros e pele branca. Raquel queria ter pele morena, não ter sardas e se chamar Raul!
Raquel descobriu uma maquiagem no matiz da pele do irmão e Raul descobriu o pó de arroz de Raquel e perucas de cabelo bom. Raquel começou a oferecer seu sexo a todas as mulheres e Raul a todos os homens.
Estavam os dois na sua mais completa harmonia. Trocaram de nome e foram viver suas fantasias. Raul e Raquel. Raquel e Raul.
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Sol...

Sol. Onde foste, sol?
Que tenho medo de sentir-te, sol?
Minha pele é clara demais, sol
Tenho medo, sol !
Só...
É escuro sol, sempre escuro
Só, sol. Com o céu sem lua...
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Beijos de sol e carícias de lua a todos!

sábado, setembro 16, 2006


Meu Bem

Vou começar a postar semanalmente. Decidi. Não tenho muita atividade mesmo e escrever ocupa um pouco meu tempo ocioso. Não quero, neste blog, ter o compromisso de escrever coisas profundas...Quero a superficialidade, meu bem!
Meu bem! Adoro dizer "meu bem". Disse pouco na vida. Existem palavras que devemos usar pouco para não gastar com pessoas erradas: Eu te amo, por exemplo, é terminantemente proibido no meu vocabulário. Eu te adoro? Muito menos! Não adoro nada. Adoração é fanatismo! Eu te odeio? Muito forte e mexicano! Jamais vou dizer eu te odeio, posso dizer isto e descobrir mais tarde que a pessoa que proferi esta frase trágica nem é tão odiada assim, posso descobrir que ela é a pessoa errada para ouvir.
Meu bem. "Meu bem" é superficial. Posso chamar a garçonete de meu bem, a minha cadela de meu bem, meu espelho de meu bem...Posso discutir com uma vendedora de loja e dizer: meu bem, acho que você me vendeu uma camisa falsificada!Pois então, meu bem, que bom que você entrou para ler esta banalidade que é meu blog. Banal, pobre, sem conteúdo, narcisístico, repetitivo, meu bem!
Seja benvindo(a), meu bem!___________________________________________________________
Ócio da cidade pequena

Para preencher meu ócio também fui ao centro da cidade. A cidade é pequena. Eu vejo os mesmos rostos. Passo repetidas vezes pelos mesmos lugares e descubro que sou um débil mental.
Qual a utilidade de caminhar duas, três, quatro horas no mesmo centro da cidade! Qual? De enxergar os mesmos rostos tão enjoativos quanto o meu? De ver aquele mesmo pipoqueiro, aquele mesmo vendedor de doces, aquela mesmíssima banca de ambulante com seus relógios paraguaios e seus óculos de sombra que estragam a minha visão? E eu compro! Eu compro as mesmas coisas, as mesmas porcarias! Por quê?
Tenho pensado nas mesmas pessoas, comido as mesmas iguarias, escrito as mesmas coisas!
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Minha amiga que já não é mais

Tenho alguns amigos que já não são mais. Alguns morreram, outros estão bem vivos. Os que morreram deixaram de ser amigos porque deixaram de existir na terra e eu não quero cultuar amizades do além, pelo menos por enquanto.
Os que estão vivos e deixaram de ser amigos arrumaram outros amigos e me esqueceram, outros arrumaram amigos químicos e estimulantes e quase me enlouqueceram, outros tiveram a audácia de pedir que eu escolhesse um amigo ou outro e isto não posso fazer.
Minha amiga que já não é mais. Pois é. Ela era parte de mim. Uma parte artística, casada com minha alma literária. Era reticente e desleixada com minha parte humana, mas eu amava a amizade artística nossa. Era isso o que eu queria e sentia amor neste enlace.
Um dia, um guerreiro de terras medievais fez minha amiga se apaixonar por ele. Ela está trancada no castelo e nunca mais vai me ouvir recitar poemas ou escrever coisas para a alma atriz que ela tem.
Amiga que já não é mais...Saudade!
------------------------------------------------------------------------------------------- Banalidades Cênicas e o Diretor famoso ou como minha obra-prima da "comédia trash" se transformou em obra hermética e elitizada.
Este flog tá muito pesado. Já disse que quero superficialidade, mas o teclado não deixa e minhas mãos são feras indomáveis. Pois eu tenho vontade de matar as feras e escrever espetáculos abominavelmente triviais. Quero falar da vagina, do pênis, do funk, da mulher de chicotinho, do homem broxa e tantas outras histórias escatológicas e tão engraçadas. Como as pessoas gostam de rir quando vêem estas coisas em cena!
Dia desses mandei um texto meu que considero a minha obra prima da comédia escatológica. Superei-me neste texto absurdamente idiota e olha a resposta que recebi deste diretor famoso no Rio de Janeiro:"Olá Charlie,"Origem da Vida" é muito bem escrita, inteligente, bem engendrada! Mas muito hermética tb! Infelizmente vivemos num país sem cultura. Gostei muito do que li, mas acho que para o seu texto virar espetáculo algumas coisas deveriam ser diferentes. A peça é muito elitizada e hj estamos no momento das"facilidades" ( rs! ), o q é muito triste!Se engana qd acha q prefiro as comédias. Prefiro o bom teatro, todos os gêneros! É q ultimamente tenho dirigido espetáculos mais leves! Mas AMO O TEATRO como um todo!"Não sei se considero isso um elogio ou um deboche! O que você acha *Bartira?* Bartira: amiga cênica que discutiu comigo, semanas antes de eu receber o email do diretor famoso, a banalidade e pobreza das produções de comédia
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Poema para finalizar porque estou cansado! (Ele já estava pronto e acho que cabe muito bem no blog desta semana)

Shopping Centers
Shopping Centers têm de tudo:roupas, livros, jóias, pessoas e lanches.
Nudez, ignorância, humilhações, bichos e fome.
Porteiros, vendedores, consumistas, inferiores.
Decoração, donos de loja, grandes compradores e alta sociedade.
Tem maldade, desilusão, shopping centers são prisões demasiadamente sedutoras.
Moças de saia curta, rapazes atléticos, senhoras de fino trato.
Há trapos, ratos e aidéticos...
Vitrinas, latrinas, requinte e resíduos.
São americanos, enganosos, e tão gostosos os shopping centers !
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Quem quiser encomendar textos herméticos e elitizados, comentar algo, aí vai meu e-mail:
charlie.rayne@gmail.com

quarta-feira, setembro 06, 2006


Difícil escrever. Difícil sentir que corre em nossas veias este vermezinho tão lindo que é a Literatura. Os vermes nos devoram. A literatura também é assim, mas este assassínio lento de colocar no papel e criar outros mundos, outros seres, dá o prazer da dor!
Escrever é se envenenar e amar o veneno, senti-lo navegar em todo corpo e urrar na dor mais sublime e romanesca dos tempos.
Num país tão caótico onde vendemos literatura de garotas de programa, de livros de auto- ajuda que só servem para incitar o suicídio, que a dramaturgia vendável beira a banalização total do ser humano; podemos dizer que nós somos guerreiros de palavras construtivas, edificantes, pensantes...
Nestas horas penso em Clarice, a Lispector; penso em Érico Veríssimo, em Machado de Assis, em Graciliano Ramos, em Joracy Camargo, em Nélson Rodrigues...Penso neles porque viveram num tempo mais brando em termos de valorização do que é a verdadeira literatura.
Bem, sem tomar o tempo de vocês, até porque estou muito ansioso para que me conheçam melhor! Vou deixar para a minha estréia no blog, uma poesia que fala um pouco da angústia dos artistas.
Quem ainda acredita em arte, vai se reconhecer!


Angústia do Mundo

Eu tenho a angústia do mundo,Este pesadelo eu tenho.
O Pesadelo do artista, do corrompido, dos ratos que espreitam o queijo...
Mares de água, Mortes de sangue, águas mortes, mares de sangue !
Tenho a indecisão dos amantes, a sofreguidão das mães abandonadas...
Tenho o nada e o tudo, a fé e a descrença.
Tenho presença de tudo que fui ou serei um dia
Ou do que nem sei que sou.
Amor, Dor, Ritos, Gritos, Sinos e SendasFlor, Vendas, Filhos, Livros e Cor
Eu tenho a angústia do Mundo, eu Tenho a Guerra em mim
Espadas, Adagas, Saara sem fim!
O lenço branco do vento, o sol vermelho do fim...
Trago a fúria do tempo, o beijo amargo carmim da prostituta!
A Luta, o luto, a letra que borda lençois de cetim.
Eu tenho a angústia do mundo, o desabafo do fadista, indecisão dos amantes, o nada e o tudo !Tenho a mim, a cabeça em rodas, embriagada de sim...
Tenho rimas pobres e vulgares deste poema, trago a ânsia desta obra sem fim.
Que nunca se faz, colcha que nunca acontece.
Eu tenho as idéias inúteis que se perdem como agora
O que fazer, a quem amar ?
Eu tenho a angústia do mundo, eu tenho a guerra em mim.
Eu tenho a Guerra em mim, a angústia do mudo.
Um sonho sem fim.
(Charlie Rayne)
----------------Filhas--------------------
Para quem não sabe ainda, eu sou dramaturgo. Deixei minhas filhas no Rio de Janeiro. Uma delas, "A Trama" está em temporada em Setembro na Casa de Cultura Elbe de Holanda. Outra delas, "Izabel, seus Buquês e seus Vestidos" está em processo de montagem, e a outra, "Memorial de Amor Inquieto" está abandonada por enquanto. Rezo para que elas dêem orgulho ao pai e que os padrinhos cuidem muito bem delas.
Mas que dá uma tristeza abandonar os filhos, isso dá!
-------------------------------Pelotas/Rio/Gaúchos/ Cariocas----------------------------------
Morei três anos no Rio de Janeiro. Sou de Pelotas, Rio Grande do Sul. Tenho 30 anos feitos. Fumo, bebo e escrevo. Querem vícios piores que esses?
Pois então, eu falava que sou de Pelotas...Sim. Sou de Pelotas e não minto que sou de Porto Alegre(recadinho para alguns artistas do Rio que escondem a sua pelotinidade- criei neologismo!). Mentira. Algumas vezes eu falei que era de Rio Grande, só para não ter de ouvir certas piadinhas.
Bem, como eu ia falando, sou de Pelotas e voltei faz duas ou três semanas. Que orgulho ver minha cidade tão linda, com seus prédios imponentes, seu povo bonito, sua fala forte, seu teatro vigoroso ainda...Já falei que Pelotas tem o mais antigo grupo de Teatro do Brasil? Sim. Teatro Escola de Pelotas. Ali eu aprendi a ser ator, dramaturgo, pessoa, essas coisas que não tem valor material, mas que são essenciais para a construção do profissional e do ser humano.
Retomando o assunto, morei três anos no Rio de Janeiro...Morei lá e aprendi a lição mais importante na minha carreira: toma cuidado com carioca! Eles vêm com fala toda cheia de xis, te convidam para tomar uma cerveja e daí todos devem saber...
Deixei poucos amigos lá e os poucos que deixei me bastam. Amizade é coisa séria! E não é que no Rio de Janeiro encontrei pelotenses que foram piores que os cariocas? Faltava a chiadeira, mas o "bah, tchê" também foi fatal.
Ok. To em Pelotas. Saí do Rio. Vou para outro lugar deste país ano que vem. Vou voltar para o Rio um dia.
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-----------------------------------A Porta-------------------------------------------
Podem bater à minha porta a hora que for. Gosto de surpresas que vem das portas. A porta é o trivial de toda notícia, de toda aparição...As coisas simples e triviais são as mais belas.
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Devaneios e Realidade
Gosto de brincar que sou um dramaturgo bem conhecido, renomado mesmo. Por exemplo, agora imagino que todos, com exceção dos amigos, todos vasculham minhas palavras, todos alucinadamente tentam interpretar as coisas que escrevo e criam milhões de interpretações para elas.
Gosto de imaginar que vivo muitíssimo bem da minha arte. Que neste exato momento, enquanto escrevo este texto, uma quantia razoável de dinheiro está sendo depositado na minha conta! Estou a gargalhar agora. Alguém que não consigo enxergar direito, pois estou absorto na minha escrita, alguém me alcança uma xícara generosa de café e alguns petiscos...Eu recuso.
Outra gargalhada.
Estou num escritório particular, na minha própria casa. De minha janela posso avistar um jardim bem cuidado, esmerado mesmo. Muitas flores. Não fumo. Não bebo nesta cena. Sou um respeitável Senhor de seus setenta anos e setecentos livros...Outra gargalhada! Meu teclado é feito de marfim...marfim mesmo!
À noite vou receber alguns amigos. Escritores, atores, diretores de cinema e teatro. Vou falar o estritamente necessário e vou partir para a cama antes que eles terminem seus discursos enfadonhos...
Outra gargalhada. Acordo. Estou de pijama. Um pijama ridiculamente amarfanhado. Meus cabelos estão em pé. Nem lavei o rosto ainda. Meu teclado está sujo de cinzas de cigarro e um café insuportavelmente malfeito desfila em minhas papilas gustativas...Ah, não tenho setenta anos, tenho trinta. Da minha janela avisto uma outra janela: a janela de uma vizinha gorducha cuja principal missão na vida parece ser a limpeza das janelas. Tenho um cachorro que acabou de urinar no tapete. Hoje mesmo vou tentar vender algum livro usado para poder comprar o cigarro de amanhã. Outra gargalhada! Uma tosse! Escuto a voz da minha mãe:
- guri, sai deste computador! Já sei. Está escrevendo aquelas porcarias que não te levam a nada!
Outra tosse. Outra e outra. Derramei o café no teclado.
- Olha só! Derramaste café no teclado! E as cinzas de cigarro? Não acredito! O cachorro urinou novamente no chão! Pega o pano e limpa! O cachorro é teu!
Vou acabar esta droga de texto, enfiar uma colher generosa de mel com propólis na boca e gargalhar nos meus sonhos!
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Se alguém quiser se comunicar comigo e partilhar deste dilema que novos escritores e dramaturgos passam, podem mandar e-mail para: charlie.rayne@gmail.com